Pra completar o homecoming da SkC, apresento agora pra vocês um conto de autoria de minha estimada amiga e companheira de blogs, Dayane Serafini Santana (nenhuma relação com Dedé Santana) ou ainda, Dayane Serafini Zatanna, chefia e capataz do blog Life Time Taste (http://lifetimetaste.blogspot.com). Aproveitem sem moderação. Lasca!
"In The Rain.
Chove demais. Os vermes das cidades grandes vão se afogar. Desde a noite passada, o céu parece querer limpar alguma imundície desta superfície. Em vão. É difícil se livrar de sujeiras tão incrustadas em cantos obscuros, como nós. Levanto-me mais uma noite, para apreciar a depravação humana. As ruas dessa cidade sombria são como fossas, que se entopem cada dia mais. Olho pela janela, o vidro embaçado pela umidade excessiva do ar não me impede de ver com clareza as ruas sob meus pés.
Pessoas passam rapidamente, algumas com capas, outras com guarda-chuvas, esperando chegar logo àquilo que chamam de lar, para esquentar seus corpos. Mas será que eles conseguem esquentar suas almas? Não me importa. Eu mesmo não tenho mais uma.
Vejo um casal, um jovem casal, na esquina próxima, discutindo aos gritos. Mesmo não podendo ouvir com a janela fechada, seus lábios sussurram as palavras para meus olhos, que leem cada movimento, que compreendem cada palavra. Eles param. A garota o estapeia e sai correndo, entrando em um pequeno beco logo a frente. Pobre garota; se tivesse uma pouca vontade de continuar respirando, não entraria sozinha, e nem acompanhada, nesses becos. Eles nunca imaginam o que, ou quem de nós, podem encontrar lá. Volto-me para o cômodo vazio com suas lâmpadas apagadas, que ressoa apenas o baque do pêndulo do arcaico relógio sustentado na parede. É hora de ir. Desço. Passo pelo jardim gramado, encharcado e silencioso. O cheiro de rosas vermelhas se intensifica, ficando impregnado no ar úmido como o rastro de um perfume arrasador.
Abro o portão. Saio na rua, andando tranquilamente, sem me preocupar com a chuva que escorre por meus cabelos e embebem minhas roupas; as pessoas me chamariam de louca andando assim na chuva, mas elas estão ocupadas demais para reparar nisso. Não há quase ninguém mais a vista nas calçadas a essa hora. Todos se escondem em suas casas, inconscientemente talvez, mal sabendo que fazem eles a coisa certa. A coisa certa que não garante proteção quando rastros sombrios decidem esgueirar-se adentro dessas casas para assolar e vitimar famílias, sejam elas inocentes ou maculadas pela putrefação destes dias. O ar gélido e pesado deixa minha pele ainda mais esbranquiçada, como se congelasse cada poro. Não me incomoda. Eu já não sinto mais frio. Não sinto mais nada. Apenas o gosto escarlate que mantém este corpo caminhando. Viro no quarteirão e vejo algumas almas perdidas ao longe, no final da avenida.
Pobres crianças que não aprenderam quão perigosas podem se tornar suas diversões. Crianças essas que já se acham homens o suficiente para lançar olhares impertinentes a uma mulher. Incrível como uma roupa esguia da cor mais escura entre todas num corpo feminino exerce tanta hipnose nessas alminhas depravadas. Escuto os murmúrios atrás de mim, então paro e volto-me a eles. Com poucos passos inclino-me sobre seus rostos e os vejo aos meus pés só por um sorriso “simpático” que dei. Não foi difícil receber um sim com um convite para um bom uísque em algum lugar da cidade.
Imagino que eles mal saibam o gosto de uma bebida, e nem vão se lembrar dessa vez. Seus olhares maliciosos denunciam o divertimento correndo em suas veias. Paupérrimas crianças. A noite apenas começa. Não para eles. É minha hora de se divertir. Hoje, mais uma vez, almas realmente se perderão em meio ao vão."
E se preparem, porque vai ter mais!
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Edu, meu caro, por favor, conserte a URL do blog, se possível, pois o Insana Loucura está oficialmente aposentado.
ResponderExcluirAgora frequente o:
http://lifetimetaste.blogspot.com/
Obrigada! =)
Day.